Hatfields & McCoys | A rivalidade sangrenta entre duas famílias

A rixa entre as duas famílias norte-americanas ainda faz parte do imaginário popular nos Estados Unidos.

Ontem, noticiamos a estreia da série Salem em rede aberta. Porém, essa não era a única novidade que o dia 6 de janeiro nos reservava. Se você também assiste séries pela TV aberta saiba que hoje, às 23h15, o SBT exibe pela primeira veza minissérie Hatfields & McCoys que aborda a rivalidade entras as duas famílias que ocorreu na última metade do século 19.

A minissérie é uma produção do canal History e dividida em três partes. O ator Kevin Costner que interpreta William Anderson Hatfield ganhou o Globo de Ouro e o prêmio SAG de melhor ator em telefilme ou minissérie. Hatfields & McCoys foi um grande sucesso nos Estados Unidos em 2012. No Brasil, a minissérie já havia sido exibida pela canal pago Space em 2013 e agora será exibida pela primeira vez na TV aberta.

Você pode até achar que nunca leu, ouviu ou viu algo sobre essa rixa. Será?

A rivalidade entre os clãs familiares faz parte do folclore americano e não é de hoje que inspira produções na TV ou no cinema. Um episódio do desenho "Pernalonga", que já foi exibido inúmeras vezes aqui no Brasil, mostra o lunático personagem ridicularizando a rixa entre um Hatfield e um McCoy.

Trazemos para você agora aquilo que precisa saber caso tenha curiosidade em relação aos fatos reais por trás da lendária guerra entre os Hatfields e McCoys.

QUEM ERAM OS HATFIELDS E OS McCOYS?

A família Hatfield (originária da Inglaterra) morava no estado de West Viriginia enquanto que a família McCoy (originária da Irlanda) o estado de Kentucky. Habitavam as respectivas fronteiras dos seus estados nos limites naturais dos rios Tug e Big Sand. Os Hatifields eram liderados por William Anderson Hatfield, também conhecido "carinhosamente" como "Devil Anse". Já os McCoys estavam sob a liderança de Randolph McCoy.

William Anderson "Devil Anse" Hatfield

Famílias consideradas respeitáveis em suas comunidades, os Hatfields eram mais ricos que os McCoys e possuiam influência política. Randolph McCoy tinha uma boa propriedade e gado. Segundo alguns pesquisadores, a riqueza das famílias vinha da indústria madereira. Concorrentes no ramo, esse era apenas um fator conflituoso entre as famílias.

No entanto, os Hatfields empregavam McCoys na extração de madeira e antes do conflito estourar, as famílias possuíam membros relacionados através de casamentos.

Randolph "Randall" McCoy

A GUERRA CIVIL

Hatfields e McCoys lutaram na Guerra Civil Americana (1861-1865) defendendo os estados do sul, ou seja, eram confederados. O que é importante em destacar a participação das famílias nesse conflito foi o fato de Asa Harmon McCoy ter decidido lutar ao lado da União, defensora dos estados do norte. 

Quando a guerra terminou, Asa McCoy retornou para a casa, mas não encontrou paz. Na fronteira do estado de West Virginia e Kentucky, grupos de ex-soldados sulistas - denominados de "Logan Wildcats" - propagavam atos de violência contras ex-soldados da União. Asa recebeu o aviso de que logo seria procurado pelos Wildcats. Sentindo-se ameaçado, Asa McCoy refugiou-se numa caverna onde recebia alimentos de seus familiares, porém foi descoberto pelos Wildcats que o mataram.

A suspeita pela morte de Asa McCoy recaiu sob William Hatfield, mas este não poderia ter participado, pois é confirmado que ele estava em casa, doente. O detalhe é que o caso não seguiu adiante e ninguém foi levado a julgamento.

ERA UMA VEZ UM PORCO...

Floyd Hatifeild na velhice

Se a morte de Asa McCoy não foi o suficiente para acirrar o conflito entre as famílias, o roubo de um porco parece que foi a gota d'água pra alimentar a tensão. 13 anos após a morte de Asa, Hatfields e McCoys se enfrentavam, pois, segundo Randolph McCoy, Floyd Hatfield, primo de William Hatfield, teria roubado um dos seus porcos que era uma mercadoria de grande valor na região. Os Hatfields alegavam que o porco era deles, pois foi encontrado em suas terras, já os McCoys diziam que o porco possuía marcas nas orelhas feitas tradicionalmente por eles. A questão foi para julgamento.

Em território McCoy, o julgamento foi presidido pelo juiz de paz Anderson Hatfield, primo de William Hatfield. Como testemunha, foi apresentado Bill Stanton (um parente dos McCoys que era casado com uma Hatfield) que favoreceu Floyd Hatifield causando a fúria dos McCoys. Dois anos depois, Bill Stanton foi morto numa briga por Sam e Paris McCoy. Os dois foram julgados, mas absolvidos alegando autodefesa. 

Segundo alguns estudiosos, toda essa contenda em relação ao julgamento foi o suficiente para encaminhar as famílias em direção a um conflito armado.

ROMEU E JULIETA VERSÃO HATFIELD E McCOY

Como vimos, Hatfields e McCoys estavam entrelaçados através de casamentos entre seus membros familiares, mas um caso em questão merece destaque. Meses após o assassinato de Bill Stanton, Johnse Hatfield, filho de William Hatfield, apaixona-se por Roseanna McCoy, filha de Randolph, durante uma eleição local. Os dois ficaram por horas desaparecidos. Roseanna ficou com os Hatfields por um tempo temendo qualquer represália da sua família. Isso enfureceu os McCoys.

Ao saber que membros de sua família estavam vindo para resgatá-la, Roseanna voltou para casa trazendo no ventre um filho de Johnse. Randolph não queria nem olhar na cara da filha que a mandou para morar com uma tia. Johnse continuava a visitá-la aumentando ainda mais o ódio dos McCoys.

Quando Johnse foi preso pelos filhos de Randolph McCoy, Roseanna foi a cavalo, no meio da noite, alertar William Hatfield que seu filho havia sido capturado. William logo preparou uma esquipe com seus parentes e juntos resgataram Johnse.

Mesmo estando ao lado dos Hatfields, Roseanna foi abandonada grávida em 1881 por Johnse. Ela morreu vítima de um ataque cardíaco quando tinha 29 ou 30 anos.

Roseanna McCoy

DERRAMAMENTO DE SANGUE

O conflito entras as famílias chegou as últimas consequências durante a realização de uma eleição local em agosto de 1882. Segundo registros históricos, três filhos de Randolph McCoy, Tolbert, Pharmer e Bud iniciaram uma briga com dois irmãos de William Hatfield. Ellison Hatfield foi esfaqueado 26 vezes e levou um tiro nas costas por um dos McCoys. Ainda segundo os relatos, os irmãos McCoys foram presos e estavam sendo levados a Pikeville quando um grande grupo organizado por William Hatfield interceptou os policiais antes de chegarem ao destino.

Os irmãos McCoys foram levados para West Virginia. Quando Ellison morreu, o destino dos irmãos foi traçado. Sarah McCoy ainda tentou intervir pela vida dos filhos que chegou a se ajoelhar perante William Hatfield, mas de nada adiantou. Os três McCoys foram amarrados em árvores e fuzilados.

Apesar dos Hatfields acharem que estavam certos aplicando "justiça", vinte homens da família foram indiciados por assassinato, incluindo William. No entanto, a influência da família junto as autoridades fez todos escaparem.

Perry Cline, advogado e casado com Martha McCoy, quis levar o caso adiante e denunciou os Hatfields pelo crime de assassinato. Segundo alguns estudiosos, isso era uma vingança pessoal de Cline que havia perdido uma ação judicial para William Hatfield numa questão envolvendo posse de terra.

"O MASSACRE DO ANO NOVO"

Os Hatfields e seus seguidores armaram um plano para atacar diretamente Randolph e a família McCoy. No dia de ano novo em 1888, Cap, filho de William Hatfield, e um grupo atacaram a casa dos McCoys. Atearem fogo ao local e Randolph fugiu para a floresta. A gravidade da violência foi tamanha quando Sarah McCoy e dois filhos fugiam da casa. Calvin e Alifair foram mortos e Sarah foi espancada até ter o crânio esmagado.

Ao lado de Cap Hatfield estava Jim Vance que dias após o massacre foi morto por um caçador de recompensas.

O massacre contra os McCoys ganhou a mídia e o sensacionalismo dos eventos ocorridos entre as famílias fez crescer o mito da guerra entre os clãs. O fato é que o conflito ganhou tamanha proporção que os governadores de Kentucky e West Virginia tiverem que intervir para evitar mais derramamento de sangue. Segundo alguns descendentes da família Hatfield, a Guarda Nacional foi mobilizada para controlar a "guerra".

Clã Hatfield

Em 1888, Wall Hatfield e outros oitos homens foram presos por mercenários liderados por Frank Phillips, um caçador de recompensas. Todos foram levados ao estado de Kentucky para serem julgados pelo assassinato da família McCoy no "massacre de ano novo".

Com a influência (dinheiro) que tinham, os Hatfields iam apelando de tribunal em tribunal até que a questão chegou a Suprema Corte dos Estados Unidos que decidiu que os Hatfields deveriam ser mantidos em custódia até o fim do julgamento.

Em 1889, sete dos Hatfields e seus seguidores foram condenados a prisão perpétua e Ellison "Cotton top" Mounts à pena de morte. No dia 18 de fevereiro de 1890, Mounts foi enforcado.

O FIM DO CONFLITO...

Após a condenação dos sete Hatfields e da execução de Ellison Mounts, as famílias pareciam ter decidido que as desavenças entre elas chegaram ao fim. Nos 30 anos do conflito entre Hatfields e McCoys menos de 20 pessoas perderam a vida diretamente.

Johnse Hatfield se escondeu por um tempo, mas acabou sendo preso e condenado a prisão perpétua, mas foi perdoado tempos depois ao salvar a vida do vice-governador de Kentucky. Isso aconteceu durante uma visita do político a prisão quando um detento tentou matá-lo a facadas. Após liberto, Johnse casou-se várias vezes.

Randolph McCoy terminou a vida trabalhando como um simples operador de balsa em Pikeville e morreu num incêndio caseiro em 28 de março de 1914 com 88 anos de idade. Ele e Sarah McCoy estão enterrados no Cemitérios Dils em Pikeville.

William Hatfield aproveitou a popularidade e viveu por mais 30 anos ao final do conflito. Concedia muitas entrevistas e deixava-se fotografar junto a família, sempre armada. Antes de morrer em 1921, William encomendou uma estátua de si mesmo para por sobre seu túmulo.

Túmulo de William Hatfield na década de 1940.

... MAS A HISTÓRIA CONTINUA

Hatfields e McCoys continuaram a se encontrar e ganhavam o imaginário americano. Em maio de 1944, a revista Life entrevistou descentes das duas famílias para mostrar como ambas viviam em paz. Era uma forma de mostrar como os americanos estavam unidos no auge da Segunda Guerra Mundial.

Durante as décadas seguintes, menbros das famílias participaram de programas televisivos e toda a região onde ocorreram os conflitos passaram a ganhar reconhecimento histórico.

No ano 2000, mais de cinco mil pessoas participaram do evento que reunia descentes dos Hatfields e McCoys. O encontro passou a ser realizado anualmente.

Em 14 de junho de 2003, em Pikeville, Kentucky, os descentes dos McCoys e Hatfields firmaram uma trégua oficial. Quiseram com isso mostrar que se aquelas duas famílias podiam chegar a um acordo, outras também podiam. Um acordo foi assinado por 60 descendentes durante o "Hatfield-McCoy Festival" e o dia 14 de junho foi declarado como "Dia da Reconciliação Hatfield-McCoy".

Descendentes das famílias Hatfields e McCoys

FONTE: Tok de história. Rostand Medeiros - Vendeta Americana - A Guerra entre as Famílias Hatfield e McCoy.